HUCF registra queda de 19,54% no atendimento de violência contra crianças e adolescentes em 2020
Referência nos atendimentos da região, Hospital da Unimontes chama atenção para a garantia dos direitos e proteção previstos no ECA
Por Wesley Gonçalves
Nesta terça-feira (13/7),
completam 31 anos de existência do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA,
criado pela Lei Federal 8.069, de 13 de julho de 1990). A lembrança da data
reforça a importância da proteção integral e da dignidade das pessoas, tendo em
vista que a violência física e sexual, a exploração do trabalho infantil
praticadas contra crianças e adolescentes em Montes Claros e região ainda
preocupam as autoridades.
O Hospital Universitário
Clemente de Faria (HUCF), vinculado à Universidade Estadual de Montes Claros
(Unimontes), é referência nos atendimentos às pessoas em situação de violência.
Muitos casos que chegam à instituição demandam internação devido à condição de
gravidade, o que exige uma assistência diferenciada da equipe multiprofissional
do HUCF.
As estatísticas mostram que,
em 2020, durante o enfrentamento da pandemia do Novo Coronavírus (Covid-19),
houve uma redução vítimas de violência atendidas no HUCF. Em 2019, o número de
casos foi de 174. Em 2020, caiu para 125 (queda de 28,16%). O atendimento às
crianças e adolescentes é desenvolvido dentro da Maternidade Maria Barbosa,
sendo coordenado pela servidora e socióloga Theresa Raquel Bethônico Correa
Martinez, que também é coordenadora da Rede de Enfrentamento à Violência contra
Mulheres de Montes Claros.
A especialista destaca que
os dados retratam uma situação preocupante em todo o Norte de Minas, onde ainda
existem muitas subnotificações dos diferentes tipos de violências sofridas.
“Para cada caso denunciado, existem vários outros subnotificados. Não podemos
aceitar calados. É preciso denunciar”, esclarece.
Theresa Martinez alerta para
a importância da vigilância e proteção para que não haja sofrimento ou algum
tipo de violência. “É válido ressaltar nesta data que o ECA visa, por meio do
artigo 4º da Lei 8.069, assegurar às nossas crianças e adolescentes os direitos
fundamentais e cuidados em tempo integral, pois são vítimas de situações e
abusos em que são subjugados pelos agressores com ameaças constantes, boa parte
em casa. É preciso quebrar a cultura do medo e denunciar. Não podemos nos
calar. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos das
crianças e adolescentes”, destaca a socióloga e servidora do HUCF.
Dados
preocupantes
Segundo dados levantados
pela Maternidade do HUCF, em todo o ano de 2019 foram feitos 174 atendimentos
de crianças e adolescentes vitimas de violência (o correspondente a 72,50% do
total de vitimas assistidas). 122 (50,83%) eram crianças e 52 (21,67%) eram
adolescentes.
Em 2020 foram realizados
pelo HUCF, 208 atendimentos de casos de violência contra pessoas. Dos 208
casos, 125 (60,09%) tiveram como vítimas crianças e adolescentes. Foram 81
casos (38,94%) de crianças e 44 casos (21,15%) de adolescentes. A queda de um
ano para outro foi de 28,16%.
No comparativo entre janeiro
e junho de 2021 com o mesmo período do ano passado, os tipos de violência
aumentaram 35,59%
Entre janeiro e junho de
2020 foram realizados 90 atendimentos de casos de violência no HUCF, dos quais
57 (63,34%) foram de crianças ou adolescentes. Os registros no período foram de
32 (35,56%) crianças e de 25 casos (27,78%) de adolescentes.
No total, no primeiro
semestre deste ano foram realizados 131 atendimentos de casos de violência no
serviço especializado do Hospital Universitário, sendo verificado um
crescimento de 45,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Deste total,
80 (61,07%) das vítimas eram crianças ou adolescentes, sendo 56 casos (42,75%)
crianças e 24 (18,32%) adolescentes.
Outro fator destacado é que
o número de meninas vítimas de violência em todo o ano de 2020 correspondeu a
105 casos (82,40%). 22 casos (17,60%) tiveram vítimas do sexo masculino. Em 91
casos (72,80%), as vítimas são de Montes Claros e em 34 casos (27,20%), as
vítimas são de outros municípios da região.
Comparativo
Nos seis primeiros meses do
ano passado, Montes Claros respondeu por 39 casos (68,42%) enquanto 18 casos
(31,58%) são de outros municípios da região. Já no mesmo período de 2021 foram
registrados 47 casos (58,75%) de Montes Claros e 33 casos (41,25%) de outras
cidades norte-mineiras.
Já os tipos de violência
mais praticados em todo o ano passado estão assim divididos: 119 casos (95,20%)
de violência sexual contra seis casos (4,80%) de violência física.
No comparativo entre janeiro
e junho de 2021 com o mesmo período do ano passado, os tipos de violência
tiveram um aumento e 35,59% e ficaram assim registrados no HUCF: 73 casos
(91,25%) foram de cunho sexual e 7 casos (8,75%) de agressão física. Nos seis
primeiros meses de 2020 foram 57 casos (96,49%) de violência sexual e outros 2
casos (3,51%) de violência física.
Toda criança tem direito à
vida, a saúde, à liberdade, à escola, ao esporte, lazer, convivência familiar
sadia e comunitária. E em casos de maus tratos e violência física ou sexual,
bem como exploração do trabalho infantil a denúncia anônima é a melhor forma de
ajudar. “Basta discar 100 e sua denúncia será mantida em total sigilo. E as
autoridades competentes como a Polícia Militar ou o Conselho Tutelar irão
averiguar e o e melhor, com a total proteção que ela merece receber”, ressalta
Martinez.