Laboratório de Pesquisa do HUCF inicia automatização do processo de extração de RNA viral para o diagnóstico do Novo Coronavírus
Com o equipamento, capacidade de testes durante a semana será duas vezes maior; parceiros falam sobre a importância do projeto
Em meio ao período da pandemia causada pelo Novo Coronavírus, a Unimontes reforça sua condição de agente estratégico para a comunidade onde está inserida no enfrentamento da Covid-19. Um dos protagonismos da instituição está no trabalho do Laboratório de Pesquisa em Ciências da Saúde, do Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), que realiza, gratuitamente, desde o início de julho, os diagnósticos do SARS-CoV-2 para Montes Claros – e com abrangência para a macrorregião do Norte de Minas. De 1º de julho até o último dia 23, foram realizados 450 testes, a partir da demanda apresentada pela Superintendência Regional de Saúde (SRS).
E, nesta semana, o trabalho inicia uma nova etapa considerada estratégica com a automatização do processo de extração de RNA viral, que é determinante para o diagnósticodo SARS-CoV-2. O Laboratório passa a contar com o equipamento Maxwell® RCS 48, da fabricante Promega Corporation, avaliado em R$ 249 mil e doado pela empresa dinamarquesa Novo Nordisk Farmacêutica do Brasil. A equipe da Universidade passou pelas qualificações de instalação, de operação e de qualificação de performance. O aparelho é capaz de fazer 48 extrações em até 45 minutos, enquanto uma pessoa, manualmente, realizaria a mesma quantidade em três horas.
“A automatização desta etapa impactará diretamente no tempo total para realização do diagnóstico, uma vez que elimina as etapas de preparo de reagentes e a centrifugação, o que permite padronizar a extração o RNA viral de 48 amostras simultâneas, num período entre 30 a 45 minutos. Além disso, minimiza significativamente o risco de contaminação entre o operador e a amostra”, explica o professor doutor Mauro Xavier, do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Unimontes e que integra a equipe de pesquisadores do Laboratório da Unimontes.
Segundo ele, os laboratórios públicos e privados nacionais e internacionais de referência no diagnóstico da Covid-19 utilizam este equipamento ou similares para extração de RNA do Novo Coronavírus. “O serviço ganha em qualidade e, isso inclui a segurança do operador, bem como a preservação da amostra e um laudo de excelência”, acrescenta o professor.
COMO É
Em solicitação apresentada a partir do projeto elaborado pelos professores dos programas de pós-graduação em Biotecnologia (PPGB) e em Ciências da Saúde (PPGCS), o Laboratório de Pesquisa em Ciências da Saúde (HUCF/Unimontes) foi credenciado pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), dentro da proposta do Governo do Estado em aumentar a demanda de testes em todas as regiões, no caso específico do Norte de Minas. No processo gradativo de validação do Laboratório, a unidade vinculada à Unimontes apresentou conformidade de 100% de concordância com os testes realizados com as amostras já validadas pela própria Funed (concordância de 100 % com amostras positivas e negativas para a presença do Novo Coronavírus).
“Os critérios adotados pelo nosso Laboratório para testagem é pelo método RT-PCR (padrão ouro para diagnóstico laboratorial da COVID-19) e segue as orientações estabelecidas pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) sobre quais exames serão feitos: de pacientes com síndrome respiratória aguda grave (em coleta domiciliar ou internados), óbitos suspeitos, profissionais de saúde, profissionais de segurança pública e de salvamento atuantes na linha de frente ao combate à Covid-19”, descreve a professora doutora Alessandra Rejane Ericsson de Oliveira Xavier, integrante da equipe da Unimontes de implantação do diagnóstico laboratorial da Covid-19 e também pesquisadora do PPGB. Também são testados os casos envolvendo surtos de síndromes gripais, com amostra definida pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância Estadual em Saúde.
Na prática, explica a professora Alessandra Ericsson, “o processo consiste no recebimento de amostras coletadas de orofaringe/nasofaringe (Swab)”. Após a coleta, são realizadas etapas laboratoriais pré-analíticas (recepção e cadastramento das amostras coletadas por swab), analíticas (extração de RNA do vírus/conversão do RNA viral em cDNA e amplificação de genes alvos específicos para Novo Coronavírus que é a RT-PCR) e pós-analíticas (interpretação dos resultados, elaboração, conferência, assinatura e disponibilização on-line do laudo dos pacientes no Gerenciador de Sistema Laboratorial (GAL), sistema unificado para casos confirmados e suspeitos em Minas Gerais,
“Antes do início dos diagnósticos no Laboratório da Unimontes, o processo com amostras era enviado à Funed, em Belo Horizonte, com a liberação do resultado dos laudos entre 3 e 5 dias. Hoje, estamos divulgando os laudos ente 24 e 48 horas”, acrescenta a professora Alessandra Ericsson Xavier.
ESTRUTURA
A partir do credenciamento junto à Funed, a equipe de pesquisadores, em especial do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, trabalhou para a estruturação do Laboratório, de forma a atender o protocolo técnico para a realização dos diagnósticos da Covid-19. Para isso, a participação de parceiros da comunidade foi determinante e essencial. A partir desta mobilização, a Universidade contou com a colaboração em recursos, equipamentos e insumos das empresas Novo Nordisk, MSD Saúde Animal e do Banco Sicoob, além do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Sétima Igreja Presbiteriana de Montes Claros, Rede Ser.Tão Solidário, Frente Universitária de Combate à Covid-19, HUCF e Voluntárias e Amigas do HU e costureiras autônomas, além do esforço da secretaria municipal de saúde, Dulce Pimenta.
Com uma das filiais (site) em Montes Claros, a Novo Nordisk repassou à Unimontes, além do Maxwell® RCS 48 de extração automática do RNA, o equipamento Step One PlusTM Real-Time PCR System do fornecedor ThermoFisher para realização da etapa de PCR em tempo real (RT-PCR). E juntamente com a MSD Saúde Animal, as empresas doaram kits de extração automatizados de RNA, kits de PCR em tempo real, micropipetas automatizadas e manuais, placas de 96 e 384 poços, ponteiras e outros insumos necessários.
“Além destes equipamentos, o Laboratório da Unimontes adquiriu uma cabine de segurança biológica (CSB) do tipo Classe II-A2 requerida para o processo de inativação e início do processo de extração do RNA viral. A execução desses processos em CSB minimiza o risco de exposição do operador ao vírus no ambiente laboratorial, bem como preserva amostras de RNA de contaminações”, destaca a professora Alessandra Xavier.
COM A AUTOMAÇÃO – “Com muito trabalho e aplicação de toda a equipe, indistintamente, alcançamos todos os protocolos para o funcionamento pleno do nosso Laboratório. Estamos como voluntários neste projeto, que reforça a missão da Universidade em servir a comunidade. Desde os primeiros diagnósticos, de primeiro de julho até aqui, liberamos 450 laudos referentes à Covid-19, uma média de 150 análises por semana – mas ainda utilizando somente o método manual de extração de RNA. Agora, com o método automatizado com o equipamento Maxwell® RCS 48, a projeção é de realizar até 300 análises semanais, exatamente duas vezes a mais do que o quadro atual, aumentando significativamente a capacidade de processamento de amostras e reduzindo o tempo de liberação do resultado”, detalha o professor doutor André Luiz Sena Guimarães, pró-reitor de pós-graduação da Unimontes e coordenador do Laboratório.
VALORES
Em nome da Universidade, o reitor Antonio Alvimar Souza enaltece o compromisso social e científico de todos os parceiros envolvidos para a consolidação do projeto do Laboratório, além da disposição dos pesquisadores, alunos, servidores e demais voluntários em assumir tamanho desafio num momento de incertezas por causa da pandemia. “A Universidade sempre vê com bons olhos realizações como esta, porque estamos todos trabalhando para o bem comum. Acreditamos que podemos ampliar estes laços porque o laboratório é uma realidade e reúne todas as condições de colocar em prática novos projetos na genética e áreas afins”.
Reinaldo Costa, vice-presidente corporativo da Novo Nordisk – Site Montes Claros, enaltece a participação da empresa neste projeto. “Salvar vidas está no nosso DNA e é muito importante estarmos lado a lado do município e suas instituições, principalmente em uma situação emergencial como esta. As doações realizadas pela Novo Nordisk contribuem para aumentar a testagem e obter dados mais fiéis de como o vírus está agindo na nossa região. Assim, novas medidas para proteger a população e salvar mais vidas podem ser tomadas”.
“Acredito firmemente que o início das operações desse laboratório universitário é um divisor de águas, não apenas para a cidade de Montes Claros, mas para todo o Norte do estado de Minas Gerais. Poderemos contribuir diretamente para o teste ativo da Covid-19, e todos nós sabemos que, quanto mais testamos e compreendemos o nível da infecção, melhor seremos capazes de gerenciar essa crise. Estou extremamente orgulhoso de que nosso relacionamento contínuo com a Unimontes e a forma como temos parcerias em muitos projetos diferentes, os levaram a nos considerar como participantes principais desse incrível esforço’’, afirma Raúl Diaz, líder do Site Montes Claros da MSD Saúde Animal.
AMPLIAÇÕES – Presidente do Foro de Montes Claros e representante do TJMG na parceria com a Unimontes, o juiz de Direito Evandro Cangussu Melo entende que a importância dessas ações conjuntas é gigantesca. “É uma missão cidadã contribuir com a universidade, na produção do conhecimento em plena pandemia. Os exames ajudam substancialmente as autoridades sanitárias na prevenção e controle epidemiológico da Covid-19. Paralelamente, capacita profissionais e amplia suas competências para, mais adiante, realizar novas ações no futuro de interesse do Tribunal de Justiça e outros parceiros”.
O pastor Tarcísio Porto, da Sétima Igreja Presbiteriana de Montes Claros, manifestou o valor da parceria com a Unimontes. “A Sétima Igreja Presbiteriana de Montes Claros agradece a Deus e aos demais parceiros pelo privilégio de colaborar para tornar realidade o diagnóstico do SARS-CoV-2 em Montes Claros. Parcerias assim constroem a cada dia uma cidade melhor para se viver”.
“No início da pandemia, pelo sentimento de fazer o bem sem olhar a quem, o destino nos uniu no grupo Ser.tão Solidário. Não sabíamos fazer os EPI’s e não tínhamos material, mas pesquisamos, tecemos a fé de ajudar ao próximo, pregamos esperança, costuramos com amor e procuramos fazer o mundo melhor. E assim, vamos atingir a meta de 10 mil EPI’s doados para os heróis da saúde. Estamos extremamente felizes e gratos por também ajudar a proteger os heróis que hoje estão fazendo o diagnóstico da COVID-19”, relatam as professoras doutoras Thallyta Maria Vieira e Laura Moreno. Elas são as coordenadoras da “frente de confecção EPI’s do grupo Ser.Tão Solidário. Thallyta Vieira também integra a equipe de professores atuantes nos diagnósticos do SARS-CoV-2.
Para Valéria Toledo, uma das costureiras voluntárias na fabricação dos EPI’s, participar do projeto é ter a oportunidade de colocar os dons dados por Deus a serviço do irmão. “É poder ajudar as pessoas, levar amor e dar esperança para dias melhores. Cada peça costurada é um gesto de amor”, depõe. Ela é uma das responsáveis pela produção de capotes e propés no grupo Ser Tão Solidário.
“Estou extremamente feliz em poder contribuir para o diagnóstico da Covid-19 na região do Norte de Minas. Acredito que a implantação deste Laboratório na Unimontes trará muitas oportunidades para o estabelecimento de novas parcerias e contribuições para a melhoria das ações que a Universidade já executa em prol da comunidade. Sinto-me muito orgulhosa em ver os profissionais que ajudei a formar trabalhando com tanta competência e dedicação”, observa a professora doutora Elytânia Veiga Menezes, também da equipe de pesquisadores nos diagnósticos.
“Fazer parte da equipe de diagnóstico do Novo Coronavírus no Norte de Minas, sem dúvidas, é uma experiência única. A cada dia aprendo mais como acadêmico de doutorado e, ao mesmo tempo, me qualifico profissionalmente. Posso dizer por mim e por meus colegas que o sentimento que nos marca é de gratidão por poder contribuir com um pouco do que a ciência pode oferecer”, considera Vítor Hugo Dantas Guimarães, doutorando em Ciências da Saúde que integra o grupo responsável pelo laboratório.